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work in process - utitled

Sou areia e pedra oceano, mas vista do espaço, da atmosfera, dos drones: palmeira, figuração inútil. Turismo e Business substituem  óleo finito, válvula de escape para um beco sem saída. Sendo areia e pedra; espaço construído em constante disputa contra a erosão molhada. Toda construção humana é uma luta contra sua própria destruição, dizem os engenheiros, mas sendo areia e pedra arremessada na imensidão oceânica, combate é imperativo. Inevitável, no corpo à corpo não saber: Líquido é por definição o que prefere obedecer ao peso a manter a forma, o que rechaça toda postura para obedecer ao seu peso. E por causa dessa ideia fixa, desse mórbido escrúpulo, perde toda compostura. Desse vício, que a torna rápida, precipitada ou estagnada; amorfa ou feroz, amorfa e feroz, feroz perfurante, por exemplo; astuta, filtrante, circundante...

 

Mas sou soberana, areia e pedra dura, sou kitsch geológica. Me trouxeram metrôs, prédios, escolas, spas, hotéis de luxo, salas de concerto, pessoas de todo mundo. Palmeira intergalática, qualquer coisa sem lógica deste homem-deus-mercadoria na Arábia. Aqui antes os homens viviam do mar, pérolas irremediavelmente desaparecidas; tribos nômades vagavam o imenso arenal do deserto - oceano seco. Não existe ilha de Delos para filhos de Leto; Nenhum pedaço-terra flutua. Areia e pedra para o assoalho oceânico: 24 milhões de km de areia e 5.5 milhões de km de pedra. Aterrada. Quase montanha.

Montanha oceânica. Esparrama submersa por 11.3 mil km, emerge, dentre outros pontos, na Ilha de Ascensão. Headspot. É o bico do pico, localizado na Ilha do Bico. Por ser enorme ereção acima da linha horizontal, o pico é tido pela cabeça da besta que olha pelos locais. Incontáveis fábulas oníricas descrevem o dia do bote da grande víbora, despenca do céu com a velocidade de foguetes e a bocarra escancarada engolindo toda a ilha. Na Islândia os líderes dos povos fundadores a chamam de Coisa, e se reúnem sobre seu dorso rachado para decidir a cerca das guerras inevitáveis. Areia e pedra; seu corpo cresce eternamente deitado sobre o assoalho oceânico de Atlas, implacável, arrebatador. Inspira água, expira bolhas minúsculas como as formas de vida celulares das quais se alimenta; aquelas do começo deste mundo, quando tudo era água. Quando a água era tudo, o início do movimento, alimento, respiração, reprodução, vida. O metal ainda estava escondido ali, entre as terras altas, de onde escorrem os rios que transbordam o pico. Montanha subterrânea, fractal metálico, se esparrama como raízes. Às vezes ela treme e rasga, devastando cidades. Às vezes permanece.

Eu comprei esse postal em St. Malo, mas não conheço nenhum desses lugares. O tempo era melancólico quando eu estava lá. No dia da partida a neblina era a mais espessa que já vi. É uma experiência agradável com as ilhas, o que estava lá antes de repente não está. Uma conexão visual com as marés. Constantemente pregando peças na mente/percepção, me fez sentir que a terra se mexia, quando na verdade era “apenas” a água.

Flutua em constante queda, contradição física. Nós deslizamos. A cima da superfície as naus transportam sonhos estranhos e barbárie. Abaixo são mortos e monstros. A cima olhos humanos fixam a linha que os certifica da imutabilidade universal. Mulheres mortas retornam em redemoinhos escuros, palavras de espuma, se dissolvem e borbulham novamente a cada onda, aos vivos a questão: o que acontece com a partícula original quando submetida ao teletransporte?

ou

 

–Será que uma onda cabe no buraco da porta?

–Olhe através, por esse lado, o de dentro da construção retangular, reckreck, a forma do retângulo é dura. 

–Será que a onda passa no buraco da porta? 

–Arrebentada, a porta flutua em constante queda, ondas gigantes, tempestade e trovoada. Uma zona, nas profundezas nem se sente. 

–Sente-se como som de tambor, sua própria pele vibrando, como alguém que espanca a porta loucamente. 

–Abre!

–Água gigante, é a forma do infinito. Às vezes uma linha.

Agora estou em Tallin, fui à praia aqui. É a primeira vez em que estive numa praia com neve. Uma camada de gelo se forma sobre a areia e então areia/neve não se misturam, mas encontrei um lugar onde isso acontecia e formava um composto de areia cinza, como a pelagem de animais. As ondas também estavam diferentes. Não uma após a outra, aquele silêncio eterno que se constrói antes de uma onda quebrar. Elas vêm em sucessão constante, minúsculas como num lago, parecem lentas, é um som constante, como a chuva, vagarosa quando vista de frente mas veloz pela lateral como uma ilusão de ótica. Mas nenhuma onda mais rápida ou lenta do que a outra.

Beijos.

Quando tornado fantasma, fui levada ao mundo subterrâneo.

Logo não haverá nada

Apenas areia e pedras

O solo que não é grosso vai rachar

Chuva vai cair eternamente e água

Inundará constantemente pelas fendas

Os ventos e tempestades entrarão

em estado de fantasma

 

I don’t want to be human, I am monster. I am water. I am the huge global liquid body. I am everywhere. I am fear. I am the end of time, this time.

 

Estou em conferência com Jim no telefone. Jim apenas - não está acontecendo nada.

 

–Oi Jim

–Huh, está indo bem

Tivemos algumas rajadas de vendo sérias

Mas para além disso

tá tudo bem montado por aqui

apenas alguns lapsos temporais

...

Está começando Adam!

Eu acho...

Adam, está começando!

–Espere Jim, Jim

–O pedaço grande está começando a soltar

Te ligo de volta

–ok

–E aí, tá rolando?

–Tá! naquele V bem ali

–Caramba! Olha aquele gigante rolando!

Você vai ver, olhe para a coisa toda

O nascimento do iceberg é como a queda da metrópole gigante, invasão, ondas desfazem toda solidez. O mundo derrete em água salgada. Vazio.

Abismo é o buraco. O buraco. O. Suga oceanos de ondas gigantes, queda em espiral.  Enormes máquinas sólidas vomitadas em destroços. Na baía gigantes criaturas metálicas de som estridente imperam, espaço reconstruído em pontos de fuga. Enquanto Caríbdes suga tudo é desapercebido, deslocado, na calmaria o instante é absoluto. Mas a cima e abaixo do horizonte negras nuvens se condensam e o vento raivoso quebra o mastro com mira certeira sobre o crânio do timoneiro, espalha miolos e vísceras pelo deque, e desaparece pelo buraco para ser regurgitado novamente à hora noticiário, aquele do rádio que se ouve no trânsito, simulacro de plenária. Olho pela janela que escorre, hoje tudo é molhado.

 

No dia que o seu postal chegou aqui chovia muito. O verão chove, todo ano é assim. Enchentes por todos os lados. É um desastre, mas não consigo não amar. É como lavar as coisas, tão forte e inevitável. Casas estão se quebrando. Pessoas se afogam, carros enferrujam aqui, uma igreja passa flutuando, lavada com o sangue do cordeiro. De qualquer forma eu estava na verdade pensando sobre fractais no caminho de casa, imóvel no trânsito, ônibus molhado. Eu soube que usam a lógica dos fractais para analisar comportamentos evolutivos no movimento das nuvens. Me pergunto como isso pode ser. Como as ondas que você descreve. No fim esses problemas matemáticos são questões de escala, dos nervos aos rios, e assim por diante.

Saudades.

A linha se quebrou, agora é impossível distinguir qualquer forma específica que possa ser nomeada. A paisagem desintegra, aspirina seca ferve na garganta molhada. Tóxica! As grandes placas de metal aprisionam a energia de setecentas cachoeiras, elas não aguentam mais. Deixarão toda a lama fluir, água metalizada, um engasgo lamacento. Mas quando o rio de lama começa a subir e cobrir a todos nós, e quando eu olho nos seus olhos: duas pequenas bolas de cristal. Começamos novamente, em queda.

 

Refrigerador, os belos dourados acumulam, às margens desesperados os peixes morrem no rio.

Ninguém quer comprar nosso peixe tóxico.

Erguidas ao longo da margem as redes da ruptura de uma gigantesca barragem. Resíduos, o leito contaminado, jazem às margens crustáceos e pacamãos que optam por sair de seu meio natural para morrer em terra, sob sol abrasador. Desmoronou um sentimento se rompeu e liberou o equivalente a 20.000 piscinas olímpicas de água e lama tóxica, gigantes mundiais, da morte à deterioração, drenagem do desabamento: pressão de contenção.

Derramamento devastador, água do rio Doce, desabastecimento açoitados, água doce abundante, água totalmente potável; desabastecimento os coitados. Continuar da catástrofe: derramamento na natureza, flora no leito, suas margens:  lama tóxica à desembocadura de água marrom.

Tartarugas gigantes vão desovar a ferida supurando do vazamento. Levantaram krenak atacando o centro nerválgico: exportação de minérios - as jazidas e o porto de Vitória - guerra justa, tradição arrasada ao rio Doce. Antepassados tristes. Catastrófica vinda do tsunami tóxico, ondas de lama; vazou; a maior opacidade da água obstruiu as guerlas dos peixes, asfixiados. Metais pesados, falta transparência derramada, o contrário.

 

A caravela-portuguesa não se move - flutua à superfície das águas, empurrada pelo vento, com os tentáculos pendentes com a finalidade de capturar

 

O barco partiu de Santarém rumo à Vitória do Xingu. O naufrágio em Vila do Maruá, Ponta Grande. Foi em Porto de Moz que o barco, segundo autoridades, recebeu de uma vez 40 novos passageiros. TEMPESTADE. Após deixar a cidade, ela é tratada como principal causa. O Inmet detectou um intenso deslocamento de nuvens saindo de Altamira em direção a Porto de Moz no início da noite. Satélites detectaram a presença de cúmulo-nimbo, um choque intenso entre massas quente fria. O ar fica pesado e cai em forma de vento - que ao bater no chão se irradia e causa destruição por onde passa.

Areia pedra oceano.

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